quarta-feira, 30 de abril de 2008

Concerto de Música Tradicional

Apareçam, se estiverem por perto.
Hoje, quarta-feira, 30 de Abril, às 22h, no Café-Concerto do TMG (Teatro Municipal da Guarda).


Vai haver um concerto de música tradicional levado a efeito pelos participantes da "Oficina de Música Tradicional", (que vai decorrer durante a tarde), orientada pelo violinista Manuel Pires da Rocha, da Brigada Victor Jara.
O trabalho da Brigada é conhecido de todos nós. Assim como o Manuel.
Vai ser um momento engraçado, com a participação dos alunos do Conservatório de Música de S. José da Guarda, nesta oficina de Música Tradicional.

Estão todos convidados.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Música para uma Segunda-feira

"Era um Redondo Vocábulo", pela Cristina Branco, numa versão intimista, como merece este tema de Zeca Afonso. Muito boa opção estética, bom gosto nos arranjos instrumentais, contidos, nada exuberantes, que a canção assim o exige, e uma qualidade vocal muito acima da média.
Gosto muito.

domingo, 27 de abril de 2008

Poema roubado por aí

"Nebulosa"

dentro de mim
crescem estrelas,
e sinto-me ascender,
acender, em chamas,
em luz escondida
que me ilumina
em sorrisos e brilhos.
beijar-te, mesmo longe,
inteiramente, aprender-te
lentamente, como vejo uma flor
florescer. e o teu olhar,
sublime, envolve-me num sol só meu.


(Obrigada ao Pedras contra Canhões)
Roubado no blogue Open-Source Poetry

Vozes de Abril

Vi, ouvi e gravei, com muita satisfação, o espectáculo "Vozes de Abril", no coliseu, que passou na RTP 1 no dia 25, à noite. Tratou-se de um espectáculo de grande nível, pela força da presença de certos artistas que, de forma ímpar interpretaram canções de que gosto muito, acompanhadas por poemas inesquecíveis. Mas... quando a esmola é grande o santo desconfia. E, bem me queria parecer que um espectáculo destes nesta altura da vida dos portugueses, e nesta altura da governação socialista, levava água no bico.
Senão vejamos: soube de fonte segura (pela Maria, que esteve lá no dia da gravação) que terá havido uma palavra de ordem (mais concretamente uma dedicatória a todos os professores) que não foi emitida. Cortaram uma frase... Pode acontecer...
Depois, a última quadra do "Somos Livres", aquela que diz: "Somos um povo que cerra fileiras/parte à conquista do pão e da paz/somos livres, somos livres/não voltaremos atrás" foi eliminada do arranjo, interpretado, naquele caso, pela Helena Vieira, que certamente terá cantado o que lhe puseram à frente. Também pode acontecer...
Entretanto cortaram uma canção ao Paxti Andión, que era dedicada ao Federico Garcia Lorca... Isto... também pode acontecer...
Depois, os planos das camaras, junto do público. Ora focavam o António Costa, ora o (Arghh..) Fernando Rosas. E ainda a Helena Roseta, a Ana Drago, a Ana Gomes, o Almeida Santos, e muitas outras caras conhecidas do PS e do BE. Vi poucas do PSD. Nenhuma do PCP. Puro Acaso? Não creio. Só uma vez consegui ver, muito de raspão, o António Filipe, do PCP. Mas acredito que deveriam estar lá muuuuuiitos comunistas. Já são coincidências a mais...
Porquê então isto?
Talvez a resposta esteja no segredo dos deuses, no gabinete de Sócrates, ou no departamento de marketing do governo. Pareceu-me, francamente, que tudo isto não passou duma operação de charme, com objectivos bem claros de sustentar a ideia da "viragem à esquerda" deste governo. Querendo com isto, obviamente, travar o caminho ao PCP, que nos últimos tempos tem aparecido "demasiadas vezes" (na concepção de Sócrates), porque tem sido quem mais tem estado ao lado das populações, havendo até, pela primeira vez desde há muito tempo, uma clara manifestação de apoio ao PCP por parte de várias classes profissionais. Pareceu-me que houve aqui uma tentativa de "capturar" o eleitorado "flutuante".
Foi esta ideia sórdida que me atravessou o espírito, enquanto assistia a um espectáculo fora de série. Mas todo ele pensado para não dar relevo ao papel do PCP na revolução de Abril. Até a Maria Barroso lá puseram, a servir de ornamento.
Porém, a verdade é uma só...

Por mais que filmassem os socialistas na assistência, eram obrigados a filmar os muitos (felizmente) comunistas que pelo palco passaram, os vivos e os mortos.
Do Adriano à Luísa Basto, do Barata Moura ao Lopes-Graça, do Ary dos Santos ao Samuel, e muitos, muitos outros, os nossos artistas, artistas e comunistas, estiveram presentes, e isso, definitivamente, não conseguiram ocultar. Se ocultassem não haveria programa. Ponto Final.


Não quis com este post retirar qualquer valor ao que se passou no coliseu. Creio que foi um momento único, que trouxe boas recordações a uns e muita emoção a outros, mas este meu lado céptico não me deixa descansar. Quem me dera estar enganada, e que tudo não passe da minha fértil imaginação...

Bom Fim de Semana.

sábado, 26 de abril de 2008

Capuchinho Vermelho, Tázaver?*

Ainda me estou a rir deste texto completamente estúpido que me mandaram por email.
Trata-se da história do Capuchinho Vermelho, contada em versão... novo acordo ortográfico.
Ora aí vai, para ficarem de bom humor. Se pelo meio perceberem a história, tanto melhor, são uns sortudos. Confesso que tive que ler algumas frases duas vezes para perceber o sentido. Estarei a ficar "cota"?


Tás a ver uma dama com um gorro vermelho? Yah, essa cena! A pita foi obrigada pela kota dela a ir à toca da velha levar umas cenas, pq a velha tava a bater mal, tázaver? E então disse-lhe:
- Ouve, nem te passes! Népia dessa cena de ires pelo refundido das árvores, que salta-te um meco marado dos cornos para a frente e depois tenho a bófia à cola!
Pá, a pita enfia a carapuça e vai na descontra pela estrada, mas a toca da velha era bué longe, e a pita cagou na cena da kota dela e enfiou-se pelo bosque. Népia de mitra, na boa e tal, curtindo o som do iPod...
É então que, ouve lá, salta um baita dog marado, todo chinado e bué ugly mêmo, que vira-se pa ela e grita:
- Yoo, tá td? Dd tc?
- Tásse... do gueto alí! E tu... tásse? - disse a pita
- Yah! E atão, q se faz?
- Seca, man! Vou levar o pacote à velha que mora ao fundo da track, que tá kuma moka do camano!
- Marado, marado!... Bute ripar uma até lá?
- Epá, má onda, tázaver? A minha cota não curte dessas cenas e põe-me de pildra se me cata...
- Dasse, a cota não tá aqui, dama! Bute ripar até à casa da tua velha, até te dou avanço, só naquela da curtição. Sem guita ao barulho nem nada.
- Yah prontes, na boa. Vais levar um baile katéte passas!!!
E lá riparam. Só que o dog enfiou-se por um short no meio do mato e chegou à toca da velha na maior, com bué avanço, tázaver? Manda um toque na porta, a velha "quem é e o camano" e ele "ah e tal, e não sei quê, que eu sou a pita do gorro vermelho, e na na na...". A velha abre a porta e PIMBA, o dog papa-a toda... Mas mesmo, abre a bocarra e o camano e até chuchou os dedos...
O mano chega, vai ao móvel da velha, saca uma shirt assim mêmo à velha que a meca tinha lá, mete uns glasses na tromba e enfia-se no VL... o gajo tava bué abichanado mêmo, mas a larica era muita e a pita era à maneira, tásaver?
A pita chega, e tal, e malha na porta da velha.
- Basa aí cá pa dentro! - grita o dog.
- Yo velhita, tásse?
- Tásse e tal, cuma moca do camâno... mas na boa...
- Toma esta cena, pa mamares-te toda aí...
- Bacano, pa ver se trato esta cena.
- Pá, mica uma cena: pa ké esses baita olhos, man?
- Pá, pa micar melhor a cena, tázaver?
- Yah, yah... E os abanos, bué da bigs, pa ke é?
- Pá, pa poder controlar melhor a cena à volta, tázaver?
- Yah, bacano... e essa cremalheira toda janada e bué big? Pa que é a cena?
- É PA CHINAR ESSE CORPO TODO!!! GRRRRRRRR!!!!
E o dog manda-se à pita, naquela mêmo de a engolir, né? Só que a pita dá-lhe à brava na capoeira e saca um back-kick mesmo directo aos tomates do man e basa porta fora! Vai pela rua aos berros e tal, o dog vem atrás e dá-lhe um ganda-baite, pimba, mêmo nas nalgas, e quando vai pa engolir a gaja aparece um meco daqueles que corta as cenas cum serrote, saca de machado e afinfa-lhe mêmo nos cornos. O dog kinou logo alí, o mano china a belly do dog e saca de lá a velha toda cheia da nhanha. Ina man, e a malta a gregoriar-se toda!!!
E prontes, já tá...



*todo o blogger tem o direito de se passar de vez em quando... yô!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril sempre!

25 DE ABRIL SEMPRE!
FASCISMO NUNCA MAIS!

Na noite de 24 para 25 tive insónias. Não dormi entre as 3 e as 6 da manhã.
Sem nenhuma razão aparente. É coisa que não costuma acontecer.
Pús-me a ler, a certa altura. O livro chama-se: "Porque vivi e quero contar" e é de autoria do Sérgio Ribeiro. Grande coincidência, li as suas palavras contando detalhadamente na primeira pessoa o que aconteceu naquele 25 de Abril de 74. Do ponto de vista de alguém que era preso político em Caxias, e que sofreu na pele os horrores de um regime fascista, as torturas, as prisões, as perseguições...

...
Lutou-se pela democracia, lutou-se pela liberdade.
E quem lutou tinha rosto e tinha nome. Alguns infelizmente já só existem na nossa memória. Outros não. E que enorme privilégio ouvir-lhes as histórias.
E por mais que queiram branquear o passado cá estaremos, eu e outros, para avivar a memória e dizer: eram comunistas. Deram o corpo ao manifesto. Lutaram por um Portugal novo. Resistiram. E tenho por eles a maior admiração.
A eles o meu obrigado.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

100ª mensagem

Quis o destino que este blogue, tendo tido o seu arranque a 18 de Janeiro de 2008, atingisse hoje, 24 de Abril, a centésima mensagem.
Já escrevi 100 mensagens.
Será que vou ter motivos para outras 100?
A julgar pelas notícias, vou, certamente.

Então, não é que um tal de Cunha Vaz, que é Director dos Serviços de Oftalmologia dos HUC, vem dizer para a televisão que os serviços médicos, mais concretamente cirurgias, realizados em Cuba a centenas de portugueses, são "fraudulentos" e "não têm valor científico"? Uma avaliação fundamentada em quê? Nos seus preconceitos a respeito deste país? Um país que ele considera "atrasado", com falta de meios, e ao qual recomenda que só se vá "para cumprimentar o Fidel Castro"? Está tudo dito.
Quem não concorda é só... o resto do mundo (excluindo os EUA, claro). A julgar pelas listas que não param de aumentar de pessoas que querem ir a Cuba tratar da sua saúde, calculamos que em breve este senhor Cunha Vaz tenha que se mudar para Miami. Pelo menos, lá, estará bem acompanhado.
Também me parece que, por cá, passamos bem sem ele. Que o digam as pessoas de Vila Real de Santo António, Alandroal, etc.
E por falar em Vila Real de Santo António, envio daqui um breve aplauso às palavras do autarca Luís Gomes, que, com uma só cajadada mata dois coelhos, relativamente a este assunto, afirmando: «Desconheço algum hospital público em Portugal com as mesmas condições que vi em Cuba», e assegura que não se trata de mera propaganda internacional, uma vez que «aquelas são as condições normais com que os cubanos são tratados» (Fonte: IOL Portugal Diário). Para um autarca do PSD até nem está mal. Quanto ao senhor Cunha Vaz, desejo-lhe umas boas cataratas e uma lista de espera de 20 anos, só para ele.



Nota de rodapé: Boas comemorações desta linda madrugada, deste 25 de Abril em flor. Eu, por cá, já tenho um grande jantar, hoje, e um grande almoço, amanhã.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Futuro


Em vésperas deste 34º aniversário do 25 de Abril, quero dedicar este post aos meus amigos, camaradas e visitantes da blogosfera, que de forma inacreditável têm contribuído para a reposição das minhas forças, e da minha confiança num futuro melhor, graças aos comentários deixados.
É muito bom saber que não estamos isolados nesta luta, que é minha, nossa, de todos e por todos.

Vamo-nos vendo (lendo) por aí...

O Futuro

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente

Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.


José Carlos Ary dos Santos

terça-feira, 22 de abril de 2008

Vende-se país. Barato. É pegar ou Largar.

Eu sei que isto está mau. Eu sei que este país está entregue a pessoas sem escrúpulos, que usam o dinheiro dos meus impostos para beneficiar interesses próprios, para favorecer os amigos, tendo em vista que estes os favoreçam quando estiverem de saída dos cargos que ocupam no poder. Eu sei isso tudo.
Mas, por qualquer razão, talvez até por uma questão de formação, lá vou tentando agir de acordo com as regras estipuladas, pela via correcta, sempre com um sentido de honestidade. Penso que é a melhor das posturas: não querer fazer as coisas por "baixo do pano", não iludir, não "passar a perna".
Fui educada no espírito de Abril. Apesar de ser filha de um marinheiro e de uma costureira que não tinham mais do que a 4ª classe (ou I ciclo, como é designado agora) os meus pais fizeram-me acreditar na liberdade, na honestidade, na luta por um ideal, na perseverança, e sobretudo, na integridade. E eu acreditei - que ingénua - que quem trabalha é recompensado, que quem é honesto alcança os objectivos, que quem age conforme as regras age correctamente, que tentar é melhor que não tentar, que ser coerente dá os seus frutos, que aprender é a melhor das armas neste mundo.
E depois cresci. E cheguei à conclusão que quem vai ao Big Brother é que é reconhecido, que quem não tem talento mas tem cunha é que fica por cima, quem rouba passa na televisão mas quem investiga num laboratório não. Etc, etc. Podia aqui ficar eternamente a dar exemplos. Dou-vos apenas mais um: hoje sairam os resultados dos subsídios atribuídos pela Direcção Geral das Artes a projectos artísticos nas mais diversas áreas. Mais uma vez constato que quem obtém financiamento por parte do Ministério da Cultura é quem tem boas relações no meio artístico. Digo-o com a maior frontalidade. Poderão perguntar se cheguei a ter esperanças que houvesse honestidade neste concurso público, e a resposta é "Sim". Afinal, a esperança faz parte da nossa vida. Todavia, viver em Portugal faz qualquer um perder a esperança. Nem que seja momentânea. E, neste exemplo concreto que refiro, as consequências são graves a vários níveis. Nesta, como noutras áreas, as pessoas que lucram são sempre as mesmas. Por outro lado, para as que ficam de fora, apesar das suas qualidades, esforços, trabalho árduo e coerência, o único sentimento que fica é a desilusão... e a vontade de emigrar.



Nota de rodapé: É claro que se baixarmos os braços serão ainda menos os que lutam. E por uma questão de integridade não o faço. A luta continua. Com raiva. Mas continua.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Direita Portuguesa


Hoje liguei o rádio e, pimba. Lá levo com as considerações idiotas do Júdice, numa rádio pública (eu estou a pagar para ouvir parvoíces?): que o PSD não tem líder, que a direita está desorientada, que a maioria absoluta do PS não deixa o PSD ocupar o seu espaço de sempre no espectro político português, blá, blá, blá.
É espantoso verificar a falta de coragem deste e de muitos outros comentadores de serviço para dizer aquilo que é verdade, e que já quase todos os portugueses perceberam: que o problema é a governação à direita levada a cabo por este Partido (que se diz) Socialista. A propósito da desistência de Luís Filipe Meneses, estou plenamente de acordo com o que foi escrito no blogue Cravo de Abril, e passo a citar:
"Na verdade, o governo PS/Sócrates tem levado tão longe a política de direita comum ao PS e ao PSD, que não deixa qualquer espaço de manobra a qualquer candidato à execução dessa mesma política. E seja quem for o substituto de Menezes, irá confrontar-se com idênticos obstáculos. É que já não há folclore alternante que pegue..."

Posto isto, pergunto-me até quando se vai ignorar a verdade? Até quando vão os portugueses assobiar para o lado?
A oposição às políticas de direita do Sócrates existe, caramba.
É feita pelo Partido Comunista Português. Mas até quando esta verdade vai ser escondida, abafada?

domingo, 20 de abril de 2008

A Música Clássica e as Crianças

Hoje vi uma parangona a passar em rodapé, num noticiário da Sic Notícias, que dizia, a propósito desta edição de "Os dias da Música", no CCB:
"Crianças dançam ao som de música clássica".
Qual é o espanto, senhores jornalistas?
As crianças dançam aquilo que ouvem. A sua sensibilidade é muito superior à dos adultos, porque ainda não passaram pela formatação social, ainda não têm preconceitos em relação a quase nada (talvez só não gostem de sopa...)
É muito mais simples fazer uma criança vibrar com a música dita clássica do que um adulto. É muito natural que ela se sinta bem a ouvir este tipo de música.
Onde é que está escrito que ela tem que gostar de música "tchi-pum-tchi-pum"?
Está demonstrado que quanto mais alguém ouvir uma determinada linguagem musical mais sente afinidades com ela, mais gosta, ao mesmo tempo que potencia a incapacidade de gostar de outro tipo de músicas. Por isso, quanto mais cedo for feito o contacto com a música clássica, de forma sistemática, mais entusiasmo a criança vai sentir quando a escutar.
Defendo este ponto de vista, sem cair no exagero de dizer que é apenas o meio ambiente o grande responsável pela formação do indivíduo. Defendo que os comportamentos resultam da influência de várias factores: do meio ambiente, sim, mas também das qualidades intrínsecas do indivíduo (o legado "biológico"), e dos seus próprios comportamentos, que são geradores e modificadores de outros comportamentos futuros.
Por isso, quanto mais música clássica seja dada a ouvir a crianças ou a adultos, mais possibilidades há destes alargarem os seus horizontes musicais, e de passarem a gostar de outras músicas que não aquelas que a indústria discográfica lhes enfia pelos ouvidos dentro. E como um comportamento influencia outro comportamento, se uma criança ouvir e gostar, vai tomar a iniciativa de, numa próxima oportunidade, pedir aquele tipo de música.
Conversas de música e da psicologia da música, só porque um jornalista qualquer não sabia que as crianças dançam ao som da música clássica.
Próxima parangona: "Jornalistas da Sic aprendem a ler"...
(Estava a brincar...)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Música para o Fim-de-Semana*

Gosto de ouvir Brahms quando chove.

Partilho convosco um excerto do I andamento da belíssima Sonata nº1, em Sol Maior, aqui tocada de forma magnífica por dois grandes músicos: no piano Daniel Barenboim, um reputado maestro, e no violino Itzhak Perlman, um violinista que toca sentado, dada a sua deficiência (não tem pernas). Felizmente tem braços, mãos, cérebro para fazer música daquela maneira!
Dá vontade de ouvir e ouvir...



(*Dedicada ao Mide)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Abril, por Eugénio de Andrade

Brinca a manhã feliz e descuidada,
como só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada
onde os ciganos passam a cantar.

Abril anda à solta nos pinhais
coroado de rosas e de cio,
e num salto brusco, sem deixar sinais,
rasga o céu azul num assobio.

Surge uma criança de olhos vegetais,
carregados de espanto e de alegria,
e atira pedras às curvas mais distantes
- onde a voz dos ciganos se perdia.



Porque me faltam palavras, hoje.
E a chuva insiste em não me deixar sorrir.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Abril Sempre



Lido algures na blogosfera:

"Que é para si a Liberdade, professor?"
"É teres a Liberdade de me fazeres a pergunta"

Aproxima-se o 25 de Abril e o meu entusiasmo começa a aumentar.
Dia 24 vou dar aulas com um cravo vermelho ao peito, ai vou, vou!
Entretanto tenho uns alunos a preparar um concerto muito interessante, com canções raramente feitas na esfera da música erudita. Algumas são do Zeca Afonso, outras do Adriano Correia de Oliveira, outras de Lopes-Graça.
E mais não digo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

As Portas que Abril abriu

“As Portas Que Abril Abriu”
Porque estamos em Abril... E não só...
Começa assim:


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinhiero estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos dos passado
se chamava esse país
Portugal suicidado

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas tabém tinha a seu lado
muitos homens na prisão

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com a que a força da vida
seja maior do que a morte

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é a força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados "páras"
que não queriam o degredo
de um povo que se separa.

E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma razão
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão


Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer

E em Lisboa capital
dos nosvos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua prórpia pobreza

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo de mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas era olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que desbobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideias
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.


Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio faziam
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
- cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabrões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os genarais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
apenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opões àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
Em em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalhos crescer.

Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
de um país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pédo Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse

um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua prórpia grandeza!

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.

Só nos faltava que os cães
viesses ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
e ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisa em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!

E se esse poder um dia
o quiser reoubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!

Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Linha do Tua



Mandaram-me um email a divulgar estas imagens com o seguinte texto:

Viagem de comboio na Linha do Tua. A paisagem, a fantástica obra de engenharia e a sua importância como serviço público, fazem da Linha do Tua uma das mais emblemáticas vias-férreas da Europa.

Confesso que nunca fiz a viagem pela linha do Tua, mas depois de ter visto este video fiquei com imensa vontade de fazer este percurso, último reduto ferroviário no nordeste português, mais concretamente entre Mirandela e Tua.
E mais motivos tenho agora. Muita tinta se tem escrito a propósito da possível, e já anunciada barragem, que este governo quer fazer naquela região, a pretexto de um presumível ganho energético para o país. Mas, como é apanágio deste primeiro-ministro, que ainda por cima tem a mania que percebe de "ambiente", a verdade dos factos não é publicitada. Quase não se ouve dizer que a barragem vai alterar profundamente a paisagem do Pinhão e de Carrazeda de Ansiães, localidades que integram uma zona classificada como "Património mundial" pela UNESCO. Uma barragem construída a cerca de um quilómetro e meio de distância do rio Douro pode provocar bastante impacto. E, ainda para mais, vai submergir cerca de 40km de linha de caminho de ferro, uma linha de via estreita, considerada por muitos especialistas como "uma das mais belas linhas ferroviárias do mundo"...

Há, inclusivé, uma petição a decorrer para defender a linha do Tua e não permitir a construção desta barragem.
Eu já assinei e aproveito para divulgar. Basta clicar.


E um dia destes vou fazer uma viagem pela linha do Tua, antes que seja tarde.


sábado, 12 de abril de 2008

Música para o Fim-de-Semana

Hoje fui ver a prisão do Forte de Peniche. Na mesma comitiva seguiam dois ex-presidiários, ou deverei antes dizer, dois presos políticos do tempo da ditadura fascista que Portugal viveu. Presos por serem comunistas. Presos por lutarem pela liberdade.
Foi estranho ouvir contar na primeira pessoa histórias relacionadas com a vida lá dentro, com a forma como eram tratados, como conseguiram fugir... Como disse alguém, "parece ficção", e realmente, até para mim, que tinha o cenário e os actores à minha frente me pareceu um argumento de um filme. Mas não. Aconteceu mesmo.
Arrepiei-me várias vezes. Emocionei-me. E mais tarde, passadas umas horas, ainda me sentia estranha por dentro.
Entretanto ouvi falar em Violeta Parra, e escolhi um dos mais lindos temas dela para aqui colocar como proposta de audição para este fim-de-semana. Por um lado, é, efectivamente, uma canção muito bonita, muito bem interpretada nesta versão (pela voz de Mercedes Sosa), por outro lado, após uma visita destas, fico cismada a pensar o que teria sido a minha vida, se não tivesse nascido em 1975, mas vinte anos antes...

"Gracias a la vida..."

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Forte de Peniche


Amanhã vou visitar o Forte de Peniche.
Aquelas paredes contam muitas histórias.
E aquelas pedras também...
Vai ser um momento único.

Até amanhã.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um concerto com boa música


No próximo sábado à noite todos os caminhos vão dar à cidade da Guarda.
Recomendo vivamente que vão ver o percussionista indiano Trilok Gurtu, pelas 21h30, no TMG (Teatro Municipal da Guarda).
Ando há anos a ouvir este percussionista a participar em todo o tipo de discos, de gente de diversas áreas artísticas. É uma oportunidade única.
Ele é, realmente, muito bom. Aliás, a crítica considera-o um dos melhores do mundo.
Apresenta-se num concerto a solo, no pequeno auditório.

Nota: Isto vai implicar uma certa ginástica, porque vou almoçar a Peniche nesse dia...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Acho graça



Vi há bocado uma notícia, disponível no site da RTP, que dizia:

"Venezuela: Nacionalizada a maior empresa de aço do país"

Caracas, 09 Abr (Lusa) - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ordenou, hoje, a nacionalização da Ternium-Sidor (Siderúrgica do Orinoco), a maior empresa de aço do país, propriedade do grupo italo-argentino Techint, anunciou o vice-presidente venezuelano, Ramón Carrizales.

Em Portugal, há para aí um primeiro-ministro que afirma "à-boca-cheia" que "é urgente fazer reformas em certos sectores", que "as coisas como estão não podem ficar", blá, blá, blá, etc e tal... E toca de mexer em tudo. Ele é saúde, ele é educação, ele é a justiça; toca de pôr todos os profissionais uns contra os outros, e todos contra os funcionários públicos; toca de disparar em todas as direcções, para atingir, no fim de contas, os mesmos de sempre.
Na verdade o primeiro-ministro não quer mudar absolutamente nada. ("Mudar" no sentido que nós, portugueses, gostaríamos. Mudar, de forma a beneficiar a vida das pessoas). Não. Sua excelência quer é "mudar" de mãos determinados serviços. Quer transformar certos sectores em máquinas de fazer dinheiro, eliminar o que de democrático existir na sua organização, e depois, calma e tranquilamente, entregar tudo ao sector privado, onde se movimentam os seus amigos, e onde, certamente, à semelhança de outros fulanos que passaram por governos anteriores, (como recentemente fez Jorge Coelho), terá um lugarzinho ao sol à sua espera. Parece ser este o destino que o governo quer dar à escola pública, aos hospitais e centros de saúde, às maternidades, aos tribunais. Se não houver uma forte contestação, é isso que, certamente, pode acontecer. Felizmente, a luta está na rua.

Pusesse o senhor engenheiro Sócrates os olhos na Venezuela, onde se fazem reformas a sério, respeitando sempre a vontade soberana e as verdadeiras necessidades do povo venezuelano. Assim sim. Se dúvidas houvesse, basta ler a notícia para percebermos que o governo de Hugo Cháves está nos antípodas da governação socretina. Porque tem coragem para defender os interesses do povo; porque não exige mais sacrifícios aos mesmos, com ar moralista; porque não tem medo de nacionalizar; porque pensa primeiro nos trabalhadores venezuelanos, e não nos patrões...
E podia continuar por aqui adiante a enumerar as imensas diferenças entre uma governação que se diz socialista, em Portugal, com uma governação realmente socialista, na Venezuela. Mas tal como não há comparação entre o cu e as calças, também não há comparação possível entre o Sócrates e Hugo Cháves.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sagração da Primavera

Porque estamos na Primavera.
Porque eu gosto de Stravinsky.


Quando este bailado estreou, em 1913, em Paris, o público reagiu muito mal. A crítica chamou-lhe "Le Massacre du Printemps" (O massacre da Pimavera), ironizando com o verdadeiro nome "Le Sacre du Printemps" (A Sagração da Primavera). Naquela época não era habitual ouvir-se música e ver-se bailado tão irreverentes, tão ousados. Até posso compreender o espanto. Mas hoje já não.
Muita coisa mudou no mundo da música, desde então. Mas ainda conheço músicos que não gostam de Stravinsky. Não compreendo porquê. E volto a afirmar o que já disse dezenas de vezes aos meus alunos: não fechem os ouvidos à música do século XX, e do século XXI.
Afinal, não tarda nada a "Sagração" está a fazer 100 anos...

Aqui fica uma não menos irreverente versão, com coreografia de Pina Baush.
Não fica atrás do Nijinsky. Pelo contrário...
Encarna na perfeição a personagem da jovem que dança até à morte, como sacrifício ao deus da Primavera.



segunda-feira, 7 de abril de 2008

De Eugénio de Andrade, com amor.

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.



in "Os Amantes Sem Dinheiro" (1950)

Eugénio de Andrade

18 meses

Este post não vai ser facilmente compreendido por todos. Por isso peço desde já as minhas desculpas. Mas é mais forte que eu. Hoje não posso deixar de dizer que estou feliz, porque nos últimos 18 meses tenho tido muitas alegrias, e tenho ultrapassado várias etapas que me tem demonstrado, dia após dia, que as muitas certezas que se possuem quando temos 18 anos podem ser todas substituídas. Uma por uma.
E outras experiências nos fazem mudar. E 18 meses podem dar o seu contributo significativo para uma mudança profunda. Bem, para uma mudança profunda até alguns segundos bastam... Mas a vida é feita disso mesmo. E António Damásio afirma-o de forma muito poética no título deste meu humilde blogue. A vida está à mercê de um processo interminável de construção e destruição (de certezas, sentimentos?)

E Pronto. Lá estou eu a tender para a lamechice...

domingo, 6 de abril de 2008

Penhas Douradas




O sol voltou a brilhar e aproveitei para ir viajar pelos caminhos da Serra da Estrela. A luz estava magnífica. As montanhas ali tão perto, com os seus Tors e os seus Castle-koppies, nomes dados pelos geólogos a formações rochosas muito sui-generis, que se encontram na zona das Penhas Douradas.
Neve não havia. Ali, pelo menos. O que é sinónimo de paz, tranquilidade, e turistas fora. Normalmente as pessoas quando visitam a Serra limitam-se a fazer a peregrinação à Torre, que é efectivamente o ponto mais alto (1993m). Confesso que prefiro os outros caminhos, que também estão ali à mão de semear. Gosto de ir ver a lagoa do Vale de Rossim, as Penhas Douradas e as suas paisagens de cortar a respiração, e aquele magnífico vale glaciar por onde desce o rio Zêzere, desde um dos sitios mais românticos da Serra, o Covão d' Ametade, por ali fora, até chegar a Manteigas, e continuar alegremente o seu percurso.
Hoje a Serra estava linda.
Gostei muito das pedrinhas a saltar na água da lagoa.
E das casitas de granito que escondem cheiros e segredos.
E muros que dão para paisagens incríveis, cheias de verde dos pinheiros, cinzento das pedras e azul do céu.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Vozes de Abril





É HOJE!!! Não percam.
Vamos aplaudir quem contribuiu para tornar Portugal um país LIVRE!


Coliseu de Lisboa - 4 de Abril 2008, 21h30m


INTÉRPRETES: Brigada Victor Jara, Carlos Alberto Moniz, Carlos Carranca, Carlos Mendes, Couple Coffee, Ermelinda Duarte, Erva de Cheiro, Estudantina de Lisboa, Fernando Tordo, Francisco Fanhais, Haja Saúde, Helena Vieira e Coro Infanto-Juvenil, Jacinta, João Afonso, José Barata Moura, José Jorge Letria, José Mário Branco, Lua Extravagante (Vitorino, Janita Salomé, Carlos Salomé, Filipa Pais), Lúcia Moniz, Luís Goes, Luiza Basto e João Fernando, Manuel Freire, Maria do Amparo, Pedro Barroso, Raul Solnado, Samuel, Tino Flores, Waldemar Bastos.

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: Patxi Andion.
POESIA: Joaquim Pessoa, José Fanha, Manuel Alegre, Maria Barroso.
CORPO DE BAILE: Coreografado por Marco de Camillis.
PARTICIPAÇÃO TEATRAL: A Barraca ( Autor e Encenador Hélder Costa).
CORAL ALENTEJANO: "Os Alentejanos" da Damaia e "Grupo da Liga de Amigos de S. Domingos" de Sacavém.
GUITARRRA E VIOLA: João Alvarez e Durval Moreirinhas.
BANDAS: Exército, Força Aérea, Marinha.
BANDA MUSICAL: Dirigida por Carlos Alberto Moniz.

APRESENTADORES: Júlio Isidro e Sílvia Alberto.

A transmissão na RTP será feita no dia 25 de Abril.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Música para uma quinta-feira

Concerto para Piano e Orquestra n.2, de Rachmaninov.


...Só porque gosto muito deste I andamento.
Preferia uma versão com o Richter a tocar, um dos melhores pianistas de todos os tempos (russo, tinha que ser!). Richter é um dos meus pianistas preferidos. Mas não encontrei. Só tenho em cd. Mas esta também não está nada má. O pianista é o Alexis Weissenberg, também muito conhecido, e o maestro é Herbert von Karajan, uma referência mundial que dispensa apresentações.

Para ouvir a qualquer hora do dia...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Então é assim:


Há dias, no blogue "We have kaos in the Garden" deixei ficar um comentário, como tantas vezes faço (como faz qualquer uma das pessoas que frequenta a blogosfera), onde discordava da opinião do autor do blogue acerca da postura do Jerónimo de Sousa e do seu (meu) partido. No mesmo comentário aproveitei para responder a outro blogger acerca do Tibete e da China, assunto quente do momento, e que tem sido aproveitado por muita gente para usar de arma de arremesso contra o PCP.
Bem... nunca pensei que o meu comentário despoletasse uma onda de comentários, uns pró e outros contra o Tibete, a China, o PCP, o Jerónimo, o autor do blogue, etc, etc. Foi lamentável verificar que algumas pessoas tem muita dificuldade em debater civilizadamente certos assuntos, sem entrar no campo das ofensas. Quando li tudo aquilo ri-me por dentro. Portugal, ano 2008, e ainda há tanta gente com preconceitos em relação ao comunismo. Houve mesmo um indivíduo que resolveu deixar um comentário aqui no Mar sem Sal, no post sobre os Sem-Terra, onde, mais uma vez, derrapava para o anti-comunismo visceral.
Houve, entretanto, uma resposta dada pelo meu camarada Mide que tenho obrigatoriamente que publicar aqui, dada a riqueza de informação que nela contém. E ao Mide e a todos os lutadores pela dignidade humana, pela justiça e pela igualdade, o meu muito obrigada.

Mide disse...

Sal, deixa-me responder a este diácono:
Para quem, de forma tão feia, insulta a autora deste blog pela comparação com um animal, devo dizer-lhe que o senhor é a encarnação de um animal bem mais estúpido que a mula: o papagaio.
Para começar, papagueia uma série de termos em contextos que a indústria cultural do imperialismo norte-americano e suas filiais tanto apreciam, como: a)"regime" quando se refere a qualquer governo socialista ou aparentado (chinês, cubano, venezuelano, etc.), mas não para qualquer outro país (como se não existisse); nem mesmo para as tenebrosas ditaduras que aquele imperialismo apoia e que, para si, terão seguramente reis, presidentes e governos, mas não "regimes" b) "ideologia" para referir socialismo ou comunismo (mas não para "neo-liberalismo", "capitalismo", "fascismo", "cavaco-socretinismo", etc.).
Depois, há duas ou três coisas que convém que saiba antes de desatar ao insulto:
- Não existem "chineses" e "tibetanos". Os tibetanos são chineses desde o séc. XIII. São os tibetanos e mais 55 nacionalidades que compoem aquilo a que, vulgarmente, se chama "os chineses"
- Os tibetanos são pessoas, efectivamente; são seres humanos. São-no AGORA, desde 1959. Até 1959 vigorava no território do Tibete, sob o domínio do Dalai Lama um regime (isso mesmo, um regime) feudal (pode sempre informar-se alhures sobre o conceito de feudalismo). Neste regime feudal 95% dos tibetanos não eram, legalmente, pessoas de pleno direito: eram escravos (espero que saiba o que é). A sua existência destinava-se, unicamente, a servir e a alimentar os senhores feudais - nobres e monges tibetanos, que castigavam e exploravam os escravos sem dó nem piedade. Sob o domínio, repito, do Dalai Lama que o senhor considera, com toda a certeza, um santíssimo líder espiritual pobre e modesto.
- Só em 1959 esses 95% de tibetanos foram libertados da escravidão e ganharam estatuto de pessoa humana. Entretanto, a sua qualidade de vida aumentou e é hoje melhor que nunca. A esperança média de vida, p. ex. aumentou para quase o dobro em menos de 50 anos. A língua e a cultura tibetanas são ensinadas oficialmente e a liberdade de culto religioso uma realidade.
- Obviamente, não agradou à minoria que perdeu os seus privilégios feudais essa mudança. Os governos norte-americanos e algumas das suas sucursais (também chamados de "comunidade internacional"), sempre dispostos a atacar por todos os meios as tentativas de construção do socialismo que foram surgindo, logo trataram de aproveitar esse descontentamento. Com os devidos meios, uma formiga pode ser retratada com uma dimensão gigantesca. Assim é com "a resistência tibetana no exílio". Esta nova investida consistiu na provocação de um motim, que a partir de determinado momento se tornou incontrolável. A tentativa tardia de controlar os tumultos proocou vítimas, é certo. Nada de comparável aos "danos colaterias" que o império americano vem semeando no Iraque de há cinco anos para cá. O alvo desta investida do império americano é, naturalmente, os Jogos Olímpicos de Pequim. Tal como foram, em 1980, os de Moscovo.
Convém também que saiba: O partido que é o meu, o da Sal e o de muitos frequentadores deste blog nunca foi maoista, e nunca apontou o modelo chinês como modelo a seguir. Ao contrário de muitos dos "modernos" anti-chineses de serviço...
- A "ideologia política" por que lutam os sem terra é a da sobrevivência, é a da luta pelos meios mais elementares de sobrevivência. Diz-lhe alguma coisa?

Espera que esteja mais esclarecido e que lamente ter insultado a Sal - uma pessoa, asseguro-lhe, autenticamente de esquerda e sem macaquinhos no sótão.
Se estiver, óptimo: estamos sempre a aprender.
Se não estiver, arranje umas penas e um bico e pinte-se de verde.