terça-feira, 29 de outubro de 2013

 
 "Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
 


Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar. 


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas. 


Adeus."

(Eugénio de Andrade)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"Quem terá dito isto?"

Do blogue Império Bárbaro:

"No seu primeiro discurso no Parlamento Italiano, em Junho de 1921, afirmou: “O Estado tem de ter uma política policial, judiciária, militar e estrangeira. Todas as restantes políticas, e não excluo sequer o ensino secundário, devem voltar para a actividade privada dos indivíduos. Se queremos salvar o Estado, temos de abolir o Estado colectivista.”


tradução minha de Mussolini, “Il Primo Discorso alla Camera”, 21 June 1921. Mussolini (1934a, p. 187)"

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ano novo

Nem tudo poderá ser mau neste ano que começou há 5 dias. É verdade que vou pagar mais impostos, é verdade que provavelmente não terei dinheiro para fazer férias, é verdade que tudo vai ser mais caro, mais difícel, mais injusto... Mas nem tudo pode ser mau.
Desde miúda tenho uma superstição que me acompanha: o número 13 dá-me sorte. Será? Será este ano um ano de sorte? Quando olho para a minha família, para os meus filhos a dormirem serenamente, sinto-me com sorte. E sorrio.
2013 não me vai apanhar distraída. Vou tratar de ser feliz, contra todas as expectativas.