sábado, 29 de agosto de 2009

A Liberdade segundo Miguel Torga

-Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

-Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
-Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Miguel Torga, in 'Diário XII'

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O conceito de Liberdade de Fernando Pessoa

"Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca..."

Fernando Pessoa, Liberdade


...Mas o melhor do mundo são mesmo as crianças!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Está tudo dito

...E o senhor presidente da Câmara de Viseu ainda diz, com ar prazenteiro, que esta é uma das melhores cidades para se viver... Como li algures: " Ele há cada um"...

Não resisti a levar emprestada a crónica de António Vilarigues do blogue "O Castendo", publicada há dias no "Público".
Imperdível. Ora leiam:

"O que custa apresentar listas de candidatos"

Pela primeira vez em 39 anos de militância partidária participei em processos de apresentação de candidaturas às autarquias locais. Desde a elaboração das listas até à sua entrega nos tribunais. A realidade, mais uma vez, ultrapassou tudo o que poderia imaginar.

Neste ano de 2009 muitos intervenientes no processo eleitoral evidenciam uma manifesta incapacidade em respeitar a legalidade democrática.

Nuns casos, por claro sectarismo político-partidário que rapidamente se transforma em actuações à margem da lei. Os exemplos, infelizmente, abundam e podem multiplicar-se. Um presidente de junta recusa-se pura e simplesmente a passar certidões de eleitor à CDU e só o faz quando intimado pelas autoridades competentes. Outro entretém-se a ameaçar putativos candidatos de que «ai deles» se por lá aparecer o respectivo pedido de certidão. No interior de uma Câmara funcionários, usando as suas funções hierárquicas, ameaçam trabalhadores seus subordinados que são candidatos, ou apenas apoiantes, de outras listas. Dezenas de presidentes de junta hostilizam e dificultam quanto podem este simples processo burocrático de obtenção de uma certidão de eleitor. Desde horários a prazos, passando por provocações políticas e mesmo pessoais, tudo serve.

Noutros casos, porém, é a realidade do país que somos que se impõem. Há presidentes de junta com uma actuação correcta, mas com manifestas dificuldades para responder a estas situações. Deixo aqui, à reflexão dos leitores, um caso exemplar.

Chega-se a uma aldeia e pergunta-se pelo horário da junta. «Está sempre fechada», respondem. E o presidente? «Está em casa». Vai-se até lá por caminhos ainda não alcatroados. O presidente está na lida da terra, a apanhar batatas. Diz-se ao que se vai. «Mas tem de ser agora?», interroga com ar natural e sem preconceito. Lá se vai à junta, pelos mesmos caminhos, e aí chegado constata-se a falta de óculos para ler. Pede a colaboração e nova viagem. Liga-se o computador e mais problemas. Gentil, fornece a password e lá se consegue obter três certidões de eleitor.

A questão é que este não é um exemplo isolado. Multiplicou-se, com diferentes cambiantes, por dezenas em quase todos os 24 concelhos do distrito de Viseu. Casos houveram em que, por aversão às novas tecnologias, certidões foram passadas à mão. Embora o programa informático para o efeito exista há já 8 anos e equipe todas as juntas de freguesia de Portugal.

Como parêntesis humorístico refira-se que numa câmara se realizou uma acção de formação sobre como, no dia da votação, informar os eleitores do seu respectivo número. Pois acreditem que presidentes de junta apareceram com «auxiliares» de 9 e 13 anos! E eram de diferentes forças políticas (PS e PPD/PSD). Estamos conversados!

Chegados aos tribunais os problemas persistem. E fica sem se perceber muito bem o porquê de certas actuações díspares. Num caso chegam ao extremo de exigir a apresentação de todos os bilhetes de identidade de muitas dezenas de candidatos. E se num lado se pedem requerimentos para tudo e mais alguma coisa, no outro, mesmo ao lado, podem-se resolver os problemas de forma expedita.

Resumindo. Neste distrito de Viseu o preconceito e o sectarismo político-partidário de quem está no poder são determinantes e condicionam mentalidades e actuações. Ser candidato da CDU (e não só) é – 35 anos depois do 25 de Abril de 1974 – na maioria dos casos, uma atitude de coragem pessoal. O que deveriam ser actos normais de cidadania transformam-se, por obra e graça de alguns, em autênticas batalhas políticas. Registe-se e reflicta-se sobre a tão propalada «qualidade» da nossa democracia.

In jornal "Público" - Edição de 21 de Agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

De regresso à Pátria

Cá estamos novamente no nosso querido Portugal.
Talvez por ter estado num país a sério, sinto-me cada vez com menos paciência para as corrupções (grandes e pequenas), para os xicos-espertismos, para os "tugas na estrada", para os desinformados - já não há pachorra -, para os analfabrutos que em todas as terras encontramos, que repetem como máquinas bem ensinadas: "eu, de política não percebo nada!", e que, precisamente por ostentarem a sua burrice de forma tão ingénua, permitem que o grande capital continue, metodica e cirurgicamente, a dominar as suas vidas, a retirar-lhes direitos, a perpetuar a exploração do homem pelo homem.
Chatice!
Não mudou nada enquanto fui de férias!
Excepto... ter vindo com as mangas arregaçadas, e uma fúria nova... para a luta!
E claro...ter visto coisas bonitas, como esta.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vou ali e já venho

... Vou tirar uns dias de férias, visitar amigos e retemperar as energias.
O Mar sem sal vai comigo.
Voltaremos dentro de poucos dias, mais salgados e bem dispostos!
Até já!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Música para o Fim-de-Semana

Insónia. Outra vez.
Resolvi passar por cá!

Este video dispensa apresentações.
Verdi escreveu uma das mais belas páginas em toda a história da música com este "Va pensiero", o famoso coro dos escravos, da ópera "Nabucco".

Em tempos de profunda crise social - lá por estarmos em Agosto ela não desaparece - precisa-se de um pouco mais de solidariedade, de esperança por uma mudança séria para Portugal.

Até quando é que os portugueses se vão deixar enganar? Até quando é que se vão deixar manipular?

Espero que este segundo semestre de 2009 traga verdadeiras mudanças, caso contrário tudo continuará igual: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Até quando?


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Agosto a gosto

Aqui está ele: o mês das férias. Votos de bom descanço para quem vai desligar... Votos de bom trabalho para quem já está de regresso à luta.