sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ser Mulher


Ser mulher e ter as hormonas a trocar-me as voltas todos os dias,
Ser mulher e ter de ouvir o funcionário do banco a dizer que já não há machismo, enquanto pede delicadamente ao meu marido que assine um papel pelos dois...
Ser mulher e ter arrepios de frio e olhos húmidos quando ouvimos a "Balada da neve", principalmente na parte em que esta fala dos pés de uma criança na neve...
Ser mulher e ter de chamar a assistência em viagem, o reboque, colocar o triângulo, chamar o veículo de substituição... enquanto vários homens perguntam "avariou?"
Ser mulher e ter dias em que o cabelo está tão estúpido, mas tão estúpido que só apetece cortá-lo à escovinha...
Ser mulher e rir, e logo nos acham galdérias,
Ser mulher e chorar, e logo nos acham frágeis e sem capacidade de resolver nada,
Ser mulher e ficar séria, e logo acham que não temos senso de humor,
Ser mulher e ter bom sentido de orientação, e logo nos acham convencidas...
Ser mulher e os collants romperem-se no dedo do pé, e ter de aguentar aquilo o dia todo...
Ser mulher e beber cafés, e logo nos acham umas loucas histéricas,
Ser mulher e beber chá, e logo nos acham "tias"...

Irra. Quero ser mulher sem ter que explicar como é que funciono!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Gastámos os olhos com o sal das lágrimas"

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Desafio aos visitantes

Hoje vi uma notícia que me chamou a atenção:


"PSD com 20 medidas para aumentar competitividade PME"
(in www.rtp.pt)

PME. Grande sigla. Pequenas e médias empresas...
Portanto, a leitura que querem que façamos é a de que o PSD, um partido de direita que já esteve por diversas vezes no poder, sozinho ou em aliança com o CDS, está muito preocupado com as pequenas e médias empresas portuguesas e seus trabalhadores...
Deu-me uma imensa vontade de rir... Juro.
E, movida por uma curiosidade sórdida, fui ao site do PSD ver quantas entradas havia quando pesquisávamos pela palavra, ou sigla, "PME". O resultado foi fantástico. Podem ver aqui.
Movida por uma outra curiosidade, fui ao site do PCP fazer a mesma pesquisa, com a sigla "PME". O resultado foi este que poderão ver aqui. Para quem tiver dificuldade em perceber esta comparação, eu explico duas ou três coisas muito simples.
A saber: primeiro, estes dois partidos tem assento parlamentar. No que respeita a propostas de Lei apresentadas, fica claro quem tem trabalhado mais ao longo dos anos no sentido de proteger, incentivar e apoiar as PME's. Segundo: Essa preocupação não tem fins eleitoralistas, como aquele que está nas entrelinhas desta notícia que saiu hoje a público, e que referi no início do post. Para o PCP, a luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores das PME's assim como a defesa das próprias PME's é uma questão ideológica que tem a ver com a sustentabilidade da economia nacional, (já que está na moda haver gente muito preocupada com esta última.) E por fim, para os mais cépticos, fica ainda a questão: quem é que faz a verdadeira oposição?
Desafio, pois, os visitantes a descobrir que partido se preocupa verdadeiramente com as pequenas e médias empresas.
Não tenham medo de descobrir a verdade. A verdade só faz mal a quem quer ser enganado.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Música para o Fim-de-Semana

O "Lamento de Dido", da ópera "Dido e Eneias" do compositor inglês Henry Purcell, é uma das mais belas árias para canto já alguma vez escritas. Trata-se da ária final, que antecede o fim da ópera, durante a qual a personagem Dido explica a sua irmã Belinda que o seu desepero a vai encarcerar na morte, e repete-lhe "remember me, but, ah!, forget my fate" ("lembra-te de mim, mas, ah!, esquece o meu destino"). E suicida-se.

Encontrei esta versão, interpretada por Maria Ewing, dirigida por Richard Hickox.
Cada segundo é precioso, nesta ária, desde o recitativo até ao coro final. Vale bem perder 10 minutos para a ouvir.


Bom fim de semana


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ser Mulher (2)

Ficam convidados a aparecer.
Neste distrito existe ainda muita pedra a partir...


Apresentação pública do Núcleo de Viseu

do Movimento Democrático de Mulheres

Na próxima quarta-feira, dia 11 de Fevereiro, pelas 21.30 h, no Lugar do Capitão, em Viseu, será apresentada à comunicação social e à comunidade em geral o Núcleo de Viseu do MDM.
Realizar-se-á uma Tertúlia que tem como objectivos não só fazer a apresentação pública do Núcleo de Viseu do Movimento Democrático de Mulheres mas também, simultaneamente, evocar a passagem de dois anos sobre a vitória do "Sim" no referendo sobre a despenalização da IVG.
Esta iniciativa contará com a presença de Fátima Amaral, membro da Direcção Nacional do MDM, e será animada com a leitura de poemas e a actuação do Trio de Jazz, composto por Adelino Soares ao piano, Sara Figueiredo na voz e Miguel Cardoso no contrabaixo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Longe vão os tempos... (será?)

"Em 1926 é instalado o regime fascista.
A Constituição de 1933 estabelece a igualdade dos cidadãos perante a lei “salvo quanto à mulher, às diferenças da sua natureza e do bem da família”.
O Código Civil de 1934 consignava o homem como o “chefe da família a quem a mulher e a criança deviam obediência”. À mulher competia, sobretudo, os cuidados domésticos: “ manter o asseio, a ordem e a alegria no lar”, mas a realidade social evidenciava a existência de mulheres a trabalhar ganhando 2/3 do salário do homem.

Num discurso de 1933, Salazar afirmava: “o trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os estranhos”. “À mulher compete tornar a casa atraente e acolhedora, prestar ao marido a deferência e submissão como chefe de família” – lê-se no Manual de Educação Moral e Cívica, que constava do programa escolar nos anos 40.

Muitos provérbios populares davam expressão ao modo como o regime fascista encarava as mulheres: A casa é das mulheres e a rua é dos homens; A mulher e o melão, o calado é o melhor; A mulher só diz duas verdades por dia. Ao levantar-se: - Tenho tanto que fazer hoje! Ao deitar-se: - Passou-se o dia e não fiz nada; Quem a sua mulher ensina a ler ou é cornudo ou está para ser; Da burra im e da mulher que sabe latim livra-te tu e a mim; Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras."

in www.mdm.org.pt

Passados quase 35 anos de Revolução de Abril, que marcou profundamente a viragem na forma como a mulher é encarada na sociedade portuguesa, definindo pela primeira vez os seus direitos e a sua função social, o seu papel, atrevo-me a perguntar: Será que é verdade? Será que já não há razões para as mulheres se sentirem descriminadas? Será que a sociedade já lhe atribui a verdadeira importância? Será??

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Curiosidades de "Ser Mulher"

"O direito ao voto

Em 1912, a Drª Carolina Beatriz Ângelo, viúva e mãe, como chefe de família, exigiu e ganhou a sua inscrição como eleitora nas eleições municipais reservadas aos chefes de família.

Em 1913, a lei eleitoral excluía 75% da população – as mulheres, aos analfabetos e os militares não activos. Só permitia o voto aos chefes de família que soubessem ler e escrever.

Em 1931, as mulheres com cursos secundários ou superiores tiveram direito ao voto, enquanto aos homens bastava-lhes saber ler e escrever.

Em Abril de 1974, as mulheres portuguesas viram consagrado o seu direito ao voto."

in www.mdm.org.pt

A história da dignidade humana está repleta de pequenas vitórias.
Como é que é possível que em 1974 as mulheres portuguesas tenham garantido o seu direito ao voto...