Circulando alegremente pela A25 vi-me mandada parar por um carro da Brigada de Trânsito. Após os trâmites habituais, de pedido e verificação dos documentos, passou-se o seguinte diálogo.
Polícia: "Isto é um veículo de mercadorias..."
Eu: "Sim."[é um jipe de dois lugares]
Polícia: "Então e já foi à inspecção?"
Eu: "Não. O Jipe é praticamente novo. Tem dois anos. Não tem de ir à inspecção"
Polícia: "Sabe que os veículos de mercadorias com mais de dois anos tem de ir à inspecção?"
Eu:"..."
Polícia: "Pois é. O veículo é de Dezembro. Já passaram dois anos. Circular sem a inspecção feita dá direito à uma multa no valor de 250 euros."
Eu: "Como???? Não sabia..."
Polícia: "É assim. E é uma multa de pagamento imediato. No caso de não ser paga terei de lhe apreender os documentos do veículo..."
Eu: "250 euros? São 50 contos. Custam muito a ganhar. Custa-me a crer que... "
Polícia: "Pois custa, pois custa a ganhar..."
Entretanto o polícia retirou-se por uns momentos para ir ao seu carro.
Indignada, estupidificada e aparvalhada lá comecei a preencher um cheque, sem acreditar no que me estava a acontecer. Quando ele regressou, voltei à carga:
Eu: "Tanto rigor!!! Acha mesmo que esta fiscalização faz alguma coisa pela melhoria das condições de circulação nas estradas? É a cobrar multas que impedem os acidentes? Enquanto está aqui a multar-me podem estar a haver acidentes nesta estrada. E aí sim, é que vocês são precisos..."
Polícia: "Sim, mas repare que há veículos de transporte de mercadoria que com dois anos já estão muito usados, o que pode criar problemas... Além disso se você tiver um acidente sem a inspecção feita, o seguro....está a vêr, não é? Não paga nada."
Eu: "Ainda assim, há coisas bem mais graves, na estrada, para a polícia andar atrás. Se eu tivesse bebido, ou fosse em excesso de velocidade, aí sim. Estaria a pôr em risco a minha vida e a dos outros. Agora a falta de inspecção num carro com dois anos... Sinceramente."
O polícia retirou-se por mais um bocadinho. Ali fiquei...
Passei o cheque, e entreguei-o ao polícia que tinha voltado entretanto.
Quando me preparava para ir embora ainda reforcei uma vez mais a ideia:
Eu: "Espero que não esteja a decorrer para aí nenhum acidente, enquanto me estavam aqui a multar por uma coisa sem importância..."
Passada aquela interrupção na minha viagem, fiz-me novamente à estrada.
Cerca de um quilómetro à frente deparei-me com um acidente na faixa oposta. Um carro todo espatifado. Pessoas a correr, a fazerem sinal ao trânsito que lá vinha.. Tinha acabado de acontecer. E ainda não tinha chegado a Brigada de Trânsito.
Pudera. Esta estava entretida na caça à multa, ou à gorjeta, não percebi bem. Os polícias faziam falta no local do acidente. Faziam falta na estrada, a patrulhar, a lembrar aos condutores, através da sua presença, que o código da estrada deve ser cumprido, que a velocidade não deve ser excedida...
Assim não.
não há qualquer forma de nos sentirmos seguros, defendidos, protegidos pelas nossas forças de segurança. É que, sem uma acção justa, não há sociedade que resista por muito tempo.
Estou sempre solidária com as acções de luta destes profissionais, quando as há. Também eles são vítimas de políticas que os prejudicam gravemente. Mas cabe aos profissionais de qualquer área fazerem-se respeitar. Com telenovelas como esta acabam por perder a solidariedade de muita gente.