“Quando descobrimos aquilo de que somos feitos e a maneira como somos construídos, descobrimos um processo incessante de construção e destruição e apercebemo-nos de que a vida está à mercê desse processo interminável. Tal como os castelos de areia das praias da nossa infância, a vida pode ser levada pela maré.” António Damásio, O Sentimento de Si (1999)
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
O fio pendurado na árvore
Este país está por um fio. Já não é o fio dental em que se havia transformado a tanga de outros tempos, quando as vacas ainda estavam no início do regime... Não. O fio dental lá continua... Este fio de que vos falo, é o fio que está ali pendurado na árvore da troika, e que todos os dias avistamos da janela de nossa casa, ou pelo retrovisor do automóvel... É um fio forte: constituído por teias sedosas, finas, cortantes... É um fio comprido: pendurado está, sem no entanto tocar no chão. Balança suavemente, muito suavemente, quando um vento de revolta lhe passa perto... mas não o suficiente para o fazer tombar... Este fio espera-nos. Ameaçadoramente. Colocaremos nossa cabeças uma por uma, (como nossos pobres países... um por um) e tombaremos liquidados, enforcados, silenciosos... os nossos corpos vão jazer por terra e empurrar-nos-ão para dar lugar a outro... Não sem antes nos roubarem as vestes, os relógios, as jóias (se ainda havia alguma), e os dentes de ouro. Depois tiram-nos dali. Já não servimos para nada.
E o fio lá continuará, implacável. Liquidando.
Triste sina esta, de servir de alimento... aos mercados...
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