sexta-feira, 12 de junho de 2009

O tempo, esse fiel companheiro de todos os dias


A 5 de Junho, na sexta-feira passada, se a minha mãe fosse viva teria feito 70 anos.
Nesse mesmo dia soube da morte da mãe de uma amiga.
Fiquei muito perturbada, porque, mais uma vez, senti aquele arrepio gelado que esporadicamente sentimos, quando nos ocorre que andamos neste mundo ao sabor da maré. De uma qualquer maré que se pode transformar em segundos, quando de um segundo apenas precisamos para que tudo mude na nossa vida.
Quando se perde alguém muito próximo fica-se vazio por dentro durante muito tempo, um tempo que nos parece não ter fim.
Mas como o tempo nos acompanha todos os dias - às vezes parece ser infinito, outras vezes parece mesmo que até nos falta.. mas ele lá anda, sempre colado a nós, como uma sombra - sem que se dê conta, suavemente, a dor vai ficando mais ténue...
E quando já passou algum tempo já começámos a respirar outra vez, devagarinho. A conseguir ver as nuvens, a conseguir dar um passo. Lá nos equilibramos novamente. Lá se prossegue a vida, um pouco confusos, como se tivéssemos aterrado na lua, e até os lugares mais familiares nos parecessem estranhos....
Mas o tempo lá está... Fiel ao seu não-parar.
Sempre a dar-nos mais espaço.
E a cada dia um novo passo.
Por isso, e porque eu sei que este sentimento não me é reservado só a mim - antes fosse! - lá vamos avançando nos meses e nos anos, pessoas frágeis, mas mais fortes, mais firmes nos passos. Nesse equilíbrio - tantas vezes precário - que nos mantém à tona da vida.

É por isso que é tão importante andarmos de mãos dadas.

8 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Belo texto. Daqueles que andam dentro de nós sem que o saibamos, e só deles ficamos a saber quando nos pomos a escrever.
Ensaios sobre o tempo que somos, em cada momento do tempo em que estamos. Aqui. E só aqui, e com as nossas mãos procurando, e com as mãos nossas oferecendo-se às mãos outras (de outros como nós) estamos. E somos.
E em cada dia, com o tempo, são cada vez mais os que connosco deixam de estar, ou que só connosco estão porque dentro de nós ficam, enquanto nós formos. Como escrevia um amigo, são muitos e sempre mais os que dentro de nós vão povoando um cemitério só nosso onde continuam vivos.

Um beijo

Fernando Samuel disse...

Como dizia o Vinicius: «Não há nada como o tempo, para passar»...


Um beijo.

Maria disse...

Abordas aqui um tema que me é tão difícil e que jamais eu conseguiria falar dele, assim. Embora o aborde muitas vezes, mas em grito.
Sem te comentar, abraço-te. E estou contigo quando dizes da importância de andarmos de mãos dadas...

Beijinho, Sal

samuel disse...

Todos os dias nascemos de novo, todos os dias aprendemos os passos do futuro...
"É por isso que é tão importante andarmos de mãos dadas."

Muito bonito!

Abreijos.

Justine disse...

Sobre a morte e o tempo não me apetece dizer nada. Só estender-te a minha mão e dizer-te: toma-a!
Beijos

linhadovouga disse...

Depois de tão significativos comentários, só me apetece dizer-te: ao teu lado, sempre. Só, nunca estarás. E, adaptando o que disse o Sérgio citando um amigo: connosco, contigo, estarão sempre os que povoam esse cemitério só nosso onde continuam vivos.

LuNAS. disse...

Miúda:
Li-te, li os comentários, e detemho-me, principlamente do do Linha - pelo conteúdo.
E é isso. Deve ser isso. Detyesto essa frase sabeoura de: o tempo cura!Porque isso requer paciência, que nem sempre tenho. Neste momento, gostava muito, mas muito, que o tempo voasse ao estádio de : 'E quando já passou algum tempo já começámos a respirar outra vez, devagarinho. A conseguir ver as nuvens, a conseguir dar um passo. Lá nos equilibramos novamente. Lá se prossegue a vida, um pouco confusos, como se tivéssemos aterrado na lua, e até os lugares mais familiares nos parecessem estranhos....'
Lá chegarei. E, pelo caminho, vou encontrandopalavras como estas, que me vão abraçando pelos ombros e me fazem sentir sempre em companhia.
Beijos muito grandes a vós. Todos!

GR disse...

Quando gostamos muito de alguém, ficamos com um pouco do que era, quando parte.
O tempo é matreiro, por vezes ajuda a esquecer, outras reforça a lembrança.
O importante é que neste contratempo haja sempre um ombro amigo, uma mão ou até um simples sorriso.

Um bj muito doce,

GR