sábado, 26 de janeiro de 2008

O povo unido...



Aqui há tempos, numa conversa com alunos de 16 e 17 anos, vim a perceber que estes olhavam para o período anterior ao 25 de Abril de 1974 com grande desprezo. Intencional ou não, esse desprezo não era senão a manifestação do seu próprio desconhecimento da história. Eu também nasci depois do 25 de Abril (exactamente 9 meses e 1 dia depois), mas sinto um grande respeito pelo nosso passado, principalmente por todos os que lutaram "em tempos de servidão" (como diz a canção de Manuel Alegre). Sinto respeito pelas inúmeras histórias da clandestinidade. Os meus alunos disseram "Ó stôra,... será que aquilo era mesmo assim?", frase acompanhada de um franzir de nariz, um trejeito de cabeça, ou um olhar de desdém... Quanta ignorância.
Como estamos em tempos difíceis, recomendo que olhemos para o passado com atenção. Olhos postos nos que lutaram em tempos ainda mais difíceis, onde a incerteza era grande, e a dor maior. Com a força dos que lutaram renovamos as nossas forças.


Este é o primeiro vídeo recomendado pelo "Mar sem Sal".
Vale a pena vêr os rostos expressivos e o calor de uma multidão. O local é Santiago do Chile, em frente a La Moneda, poucos dias antes do golpe militar de 11 de Setembro de 1973.
Ouçam Quilapayun cantar "El Pueblo Unido Jamas Sera Vencido", e comovam-se.
Era disto que precisávamos em Portugal (outra vez).


www.youtube.com/watch?v=fvlgM70tBGc&feature=related

5 comentários:

Anónimo disse...

oLa linda!
gostei dete post!
tenho recordaçoes fortes desse grande 25 de abril!
E associo sempre ao muro k separava os rapazes das raparigas na escola da Cambeia...pois, nem sequer podia falar com o meu irmao, senao seria punidda...
tb lembro de andar a cantar o que nos andavam a ensinar na escola,"uma gaivota voava, voava..;" la por perto de casa, e minha mae me dizer para eu cantar baixinho!! (so depois do dia 25 é q podia cantar à vontade) .
sao pormenores , mas ficaram, eu tinha apenas 8 anos!
o murito da escola foi posto abaixo tempo depois e finalmente ouveram classes mistas.
so mais tarde li sobre o periodo q Portugal atravessou...chocante...
ate à revoluçao dos cravos!
jinho

Anónimo disse...

Ó stora, outro 25 é impossivel!
Eu gostava mais que: não tivessem deixado acabar este.
Veja só quanto sofremos antes,e no durante, para agora no após, tudo se diluir, e nem sequer acreditam nos mais velhos como eu que, a única coisa que pesso á juventude é:-não deixem morrer o espirito de ABRIL, porque as ditaduras vestem-se de muitas maneiras, algumas até parecem democráticas!
Não existem verdades absolutas mas,existem algumas mais credíveis,
mantenha o seu espírito de ABRIL, AJUDANDO ESTA JUVENTUDO A PERCEBER QUE - ADEMOCRACIA FAZ-SE EXECUTA-SE E VIVE-SE TODOS OS DIAS!
A DEMOCRACIA SERVE-NOS, SE NÓS SERVIR-MOS A DEMOCRACIA.
Bem haja
josé manangão

Anónimo disse...

Ó Stora com mais Sal isto vai. Coloquemos o Sal necessário para o cozinhado da Revolução. Eles só nos dão produtos geneticamente modificados e nós queremos produtos populares.

Anónimo disse...

Caro José Manangão, aka, poesia no popular:

A revolução de Abril nunca esteve tão viva dentro dos nossos corações. E nunca fez tanta falta como agora. Precisamos outra vez não de um novo 25 de Abril mas da CORAGEM do 25 de Abril de 74. Precisamos de novo de ir para a rua fazer ouvir a nossa voz - já que quase nada mais nos resta - precisamos de VOTAR com consciência, precisamos de dizer NÃO ao caciquismo, NÃO à corrupção, NÃO à exploração do homem pelo homem. Só assim a democracia faz sentido. Só assim não deixamos morrer Abril.

Sérgio Ribeiro disse...

O que tu - que nem sei quem és mas só por tu te posso tratar - vieste trazer à minha (e de tantos outros)memória viva!
Um mês depois deste Agosto em que assim se cantava, em Setembro de 1973, chorei de dor, de raiva, de impotência. Pelo povo unido do Chile que não era vencido mas esmagado, por Vitor Jara.
Estava, por acaso, em Paris e tinha 37 anos. Chorei, como agora me fizeste chorar.
Com a certeza de que o povo unido pode ser esmagado mas nunca será vencido porque sempre se renova a luta e a esperança.
Obrigado!