“Quando descobrimos aquilo de que somos feitos e a maneira como somos construídos, descobrimos um processo incessante de construção e destruição e apercebemo-nos de que a vida está à mercê desse processo interminável. Tal como os castelos de areia das praias da nossa infância, a vida pode ser levada pela maré.” António Damásio, O Sentimento de Si (1999)
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Novo Ano Lectivo(2)
É o caos absoluto.
Este novo início de ano lectivo tem-me tirado muitas horas de sono, e por isso, não tem sido fácil visitar os meus "amigos de infância" (como diz o Samuel) da blogosfera.
A senhora ministra Maria de Lurdes Rodrigues rejubila de contente com a abertura do ano lectivo, entrega "Magalhães" (é mesmo assim que se chamam os computadores??) a torto e a direito, e, pela parte que me toca, acho imensa piada à obrigatoriedade que agora foi posta em prática de aplicação da portaria 1550/2002. Refiro-me a uma legislação (que até nem é má, mas nem sequer foi ideia deste Governo) que regulamenta o regime de frequência "Articulado" nas escolas de Ensino Artístico Especializado (EAE), vulgarmente conhecidas como "academias" ou "conservatórios".
A ministra vai gabar-se em breve, talvez já agora, no próximo dia 1 de Outubro, de que conseguiu pôr mais gente a estudar neste tipo de ensino.
Pois quero preveni-los do seguinte:
1) a srª ministra quis pôr em marcha, com a força de uma legislação, um sistema abrangente de acesso ao EAE. Mas beneficiou, principalmente, as escolas particulares, que, afirma estão a realizar um "serviço público". Reparem que não criou escolas públicas! Já vi este filme antes. Lembram-se dos hospitais públicos com gestão privada? Foi um favorzinho que fez a potenciais interessados em "comprar" o EAE em Portugal. O futuro demonstrará quem são, porque, não tenham dúvidas, se esta marcha não fôr interrompida, também esta área será (se é que ainda não foi) tomada de assalto por grandes grupos económicos. Repito: o futuro o dirá!
2) as escolas e os conservatórios não estavam preparados para as "negociações", ou "articulações" necessárias. É um erro pensar que isto foi pacífico, no terreno. Não foi.
Os horários não foram preparados para o currículo do aluno em articulado, os alunos não foram esclarecidos, alguns pais não fazem ideia do que estão a escolher para o futuro dos seus filhos, e tenho sérias dúvidas que metade destes alunos consigam comprar instrumentos musicais. Pois é. A ministra não se lembrou que este problema iria acontecer... Um colega dizia-me no outro dia que esteve numa reunião de pais onde estiveram presentes pessoas que tinham caminhado 4km (a pé) para estar na reunião, à noite. Quando se falou na necessidade de comprar um instrumento musical... levantaram-se e foram-se embora. Quem quase não tem dinheiro para comer não consegue pôr um filho a estudar música. Não foram criados quaisquer tipos de apoios para a aquisição de instrumentos. Quem sabe se uns "Magalhães" a menos...
3)vai haver sempre gente interessada em "mostrar serviço". Alguns tem cartão rosa e não vão querer ficar mal na fotografia. Talvez já a pensar no cargo que poderão vir a ter no futuro, numa qualquer Direcção Regional de Educação, ou como gestores escolares. Outros vão dizer que isto está tudo errado, mas pelas piores razões: porque consideram que este tipo de ensino é para uma elite, e assim se deve conservar, colocando de parte os filhos dos operários, empregadas domésticas, chineses, ucranianos e ciganos (principalmente estes três últimos).
4) Também vai haver quem, mesmo sabendo que estas directrizes levam água no bico e acarretam (ainda mais) problemas a este sector de ensino, vá lutar por esta coisa da "democratização" do ensino artístico especializado, e até arrisco dizer que se alguma coisa funcionar, este ano, dever-se-á, fundamentalmente, à capacidade de trabalho dos professores e ao "amor à camisola" que estes têm pelo ensino artístico.
De outra forma, não estou a ver...
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10 comentários:
Não sejas assim tão mázinha, aquilo é tudo gente bem intencionada...
Bom post, Sal!
Hoje a minha "paixão" também foi a educação... :)
Abreijos
O "amor à camisola"... que é o amor aos outros, à vida, ao futuro.
E tanto temos a agradecer por ele, porque resiste aos pontapés (melhor diria aos coices) com que o mimoseiam.
O mundo é vosso, não é dos negócios, por muito espaço e tempo que ocupem, por muito mal que nos estejam a fazer!
Boa!, Sal. Um beijo
E com o vosso trabalho honesto ides travando a acção desta gente execrável do governo. hoje a autora do "livro" "o menino de Oiro do Ps" estava a realizar uma "Antena Aberta" acerca das virtudes do "Magalhães".
O comentário anterior é meu.
Poça! Raio de feitio, moça. Deu o Magalhães e tudo... (por acaso já ando com pena do Magalhães; o que ele tem corrido:)
Parabéns pelo esclarecedor post, Sal. Não duvido da carolice dos que se dedicam com amor ao ensino artístico.
Beijinhos
E os podres já estão bem à vista... um dia destes sai um apanhado.
Bom post.
Ah! Sal: e as tuas etiquwtas - são outros post, evidentemente:)
obrigado pelas dicas, já vamos de sobreaviso.
e obrigado pelo excelente video. espero que o tenhas desfrutado como eu.
Vá lá, não estragues a festa ao senhor primeiro-ministro e à sua excelentíssima ministra...
Um beijo.
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