domingo, 17 de agosto de 2008

Palavras para ficar calada

Este mundo, às vezes... dói-me.


Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha

derramava-se no meu, e eu sentia

nele o pulsar do meu próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
o mistério das palavras maduras
ou a brancura de um amor que nos prendia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes.


Poesia de Eugénio de Andrade, As Mãos e os Frutos, 1948
Quadro de Picasso, Fernande à la mantille noire, 1905-1906

9 comentários:

Maria disse...

Belo é este poema de Eugénio de Andrade. Lê-lo e relê-lo a esta hora, em completo silêncio, soa como um grito...

Beijinhos, Sal

Fernando Samuel disse...

...«e longamente bebi os horizontes»...
esta música, bela e triste...

Um beijo amigo.

samuel disse...

Que faria se falasses!...

"E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes"... até faz doer!!!

Abreijos

Justine disse...

Nunca cansa, esta poesia límpida e pungente.
Apetece voltar sempre, sempre, e sofrer com ele.

Teresa Calcao disse...

Cheira-me a nostalgia.......
Beijinho grande

Anónimo disse...

Soa-me muito familiar. Tudo bem? Beijinhos

XICA disse...

Simplesmente lindo.

Lúcia disse...

Eugénio - diz tudo. Lindo!
Beijos, Sal.

Anónimo disse...

Não sei porquê soa-me familiar como à Rita... Será coincidência?
Lol.
Saudações!