sábado, 23 de agosto de 2008

Poema roubado por aí


Poema da flor proibida

Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.

Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.

Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,
não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.

Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.

Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.



Poema de António Gedeão, Obra Poética, Edições João Sá da Costa, 2001.
Foto de uma camélia do meu jardim. E vou dizer como a Maria: vou ali e já volto!
Bom fim de semana.

12 comentários:

Maria disse...

Muito bem roubado o poema.
Só não roubo a camélia porque... está está no teu jardim. Mas eu adoro camélias...

Bom fim-de-semana, Sal

Beijinhos

Sal disse...

Maria: Para quando uma visita (que não seja virtual) às camélias do meu jardim?
Temos de pegar nas agendas...
beijinhos

linhadovouga disse...

Bela camélia...
Belo poema, belo e cáustico.

Anónimo disse...

Se tanto ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta, eu, ladrão me confesso.

Roubei tudo, poema e camélia.

Fernando Samuel disse...

Que nunca te canses de roubar coisas destas...

Bom fim de semana.

Um beijo.

Lúcia disse...

Lindo Sal! Belo post, mesmo (e sem som, ou seja, saio daqui sem frustraçõezinhas nenhumas -ehehe!)
Beijos e bom fimd e semana

em azul disse...

sempre há um roubo perfeito... sem deixar rasto.

Um abraço
em azul

Justine disse...

Adoro a ironia sardónica do Gedeão:))
Beijinhos

Hilário disse...

se todos os roubos fossem como este, eu queria fazer parte dos mesmos.
boa semana.

Sérgio Ribeiro disse...

Estou a ler, página a página, Arte de Furtar, atribuído (ao que parece indevidamente) ao Padre António Vieira. Que livro!
Mas olha que a tua "arte" também merece encómios.
Beijos

Mar Arável disse...

Gedeão pois claro

Sal disse...

Permitam-me os outros visitantes que dê as boas vindas à "em Azul", ao "hilário" e ao "Mar arável".
Voltem sempre e opinem sempre que a gerência agradece.
Muitos beijinhos para todos.