Não tenho a capacidade de adivinhar o futuro, mas confesso que se não fosse pela capacidade de acreditar nas pessoas, e na mudança, ser-me-ía muito difícil continuar ligada ao meu ramo profissional. Felizmente vou tendo a sorte de conhecer bons alunos, que nem sempre são os melhores alunos no sentido musical do termo, mas outras vezes são.
Também vou tendo a sorte de conhecer bons colegas de trabalho, bons músicos, boas pessoas. Vou tendo a sorte de me serem dadas condições para desenvolver os projectos profissionais em que me envolvo.
Mas este ano tudo está a mudar. As escolas de ensino artístico especializado (EAE) preparam o próximo ano lectivo. As directrizes por parte do Ministério da Educação são, este ano, diferentes dos anos anteriores. E, à semelhança do que acontece noutras áreas, quando este Governo mexe em algo é com o objectivo claro de preparar o "bolo" para entregar aos privados. Não é à toa que Valter Lemos aparece num jornal da AEEP a enfatisar as virtudes do ensino Particular e Cooperativo, assim como o ensino profissional, afirmando que as escolas do EPC fazem serviço "público"...
Aí está o novo subterfúgio: fazer serviço público com oferta de uma rede de escolas privadas!
Este Governo inventou a pólvora!
Face às alterações previstas quer nos currículos, quer na estruturação do ensino especializado de música, quer no financiamento deste, levantam-se, neste momento, algumas dúvidas:
1- Porquê realizar a reestruturação ou redefinição da rede de escolas de EAE a partir do que existia? Porque não conceber novas escolas públicas que fizessem uma cobertura lógica, democrática, homogénea de todo o território português, ou criando escolas de raiz, ou nacionalizando escolas privadas com trabalho feito?
2- O financiamento previsto fará justiça às reais necessidades dos alunos e professores nos devidos cursos (básico e complementar), nos respectivos regimes de frequência? É que um aluno com 3 disciplinas no básico gasta menos que um aluno do complementar, porque este último tem 7 disciplinas...
3- Implementa-se o (já existente) regime articulado, mas... quem sensibiliza as escolas do ensino regular para a criação de turmas dedicadas, ie, turmas só com alunos do conservatório? Quem se responsabiliza por transportar os alunos aos conservatórios? A articulação é deixada ao sabor de cada escola, de cada agrupamento, de cada autarquia...
E, posto isto, preocupa-me o seguinte: de acordo com as novas directrizes, mesmo os alunos em regime supletivo (que andam desfazados na escola do ensino regular e não em simultâneo, como os de articulado), terão de ter algum paralelismo com os anos de frequência na escola. Isto fará com que uma criança que queira aprender música aos 14 anos já não o possa fazer, a não ser que pague muito, mas mesmo assim não obterá paralelismo entre um 1º grau no EAE e um 8º ano, por exemplo.
Portanto... Ou os putos decidem que querem estudar música até aos 12 anos, ou então... ficam fora do sistema. Ponto Final.
Que futuro vem aí?