Hoje de manhã houve 13 pessoas que não me responderam depois de eu lhes ter dito "Bom Dia".
Outras 4 olharam para mim e quando viram o que tinha nas mãos mudaram de direcção.
Houve uma que me disse para ir trabalhar.
E uma grande porcentagem respondeu "Não quero nada disso".
Houve outras, em menor quantidade, é certo, que foram correctas, responderam com educação, e, imagine-se, até com um sorriso.
Algumas compraram o que trazia para vender, juntamente com mais cinco camaradas.
Outras não compraram, mas, pelo menos, não foram insultuosas.
Quando desempenho uma simples função dentro do partido a que pertenço, faço-o com o maior sentido de missão. E já não é a primeira, nem segunda vez que vou para o centro da cidade onde resido vender o jornal
"Avante!". Porém, de todas as vezes que o faço, sinto que fico a conhecer melhor este nosso mundo, habitado por todo o tipo de pessoas.
Mas algumas pessoas são, efectivamente, caricaturas de seres humanos. Tal é a podridão em que mergulharam. Tal o medo do cacique (porque no local onde resido há uma estranha tradição de obedecer ao senhor da terra).
Vivo, como já calcularam, numa cidade de direita pura e dura. Nesta cidade não é fácil levar para a frente uma luta, por mais justa que seja. Por mais consensual que seja.
Mas faz-me /faz-nos bem contactarmos com este tipo de pessoas, este tipo de cidades, este tipo de mentalidades.
Só nos faz ficar mais motivados para a luta. Só percebemos ainda com maior clareza, se ela faltasse, que há muito a fazer para defender os ideais de Abril. A nossa liberdade, pessoal e colectiva. A nossa democracia, sem "senhores" a pensar, ou a votar por nós.
Nesta cidade é um desafio permanente ser-se comunista. Todos os dias sou posta à prova. "Até onde és capaz de aguentar?" São os colegas de trabalho que boicotam as nossas pequenas, mas certeiras actividades. São as múltiplas lutas que precisamos de travar (e são tão poucas as mãos para trabalhar...). São estas pessoas que encontramos, com quem nos cruzamos, que nos olham, que nos julgam, e que já sabem tudo sobre nós e sobre o comunismo...
Mas há sempre forças, porque não estou só nesta batalha. Há sempre energia, porque sei que defendo o que é certo.
Há sempre coragem, porque se eu não a tiver, quem mudará o mundo?Por isso, para a próxima lá estarei outra vez no Rossio.
"Bom dia. Quer comprar o jornal Avante?"