sexta-feira, 4 de julho de 2008

Para onde vão os impostos...


Já passou um ano desde que Joe Berardo transferiu para o CCB parte da sua colecção de arte contemporânea, depois de ter celebrado com o estado português um contrato - que foi designado por acordo de comodato, seja lá o que isso fôr - onde certamente se assegura de que não perderá dinheiro com o "aluguer" das peças para exposição pública. Foram divulgados os dados relativos ao aumento de visitas ao CCB desde essa altura: parece que já houve 500 mil visitantes...
Um ano passado, é tempo de fazer o balanço desta parceria de um equipamento público com a Fundação Berardo.
Pergunto-me:
1- os visitantes sairam mais conhecedores da arte dos nossos tempos, ou foram vêr a Colecção Berardo apenas porque está na moda, e teve um tratamento mediático muito grande?
2 - o estado português pode comprar a Colecção até 2016, tendo por isso que conceder anualmente 500 mil euros, assim como Joe Berardo, que concede montante igual. Vale a pena gastar este dinheiro? Ou não seria melhor fazer uma distribuição mais equilibrada, descentralizando e tentando esbater as assimetrias que existem neste país, também em termos culturais?
3- as despesas de funcionamento, apesar de serem repartidas pelas duas partes, ascendem a 3 milhões de euros. O estado português forneceu um local de excelência à Fundação Berardo. Roubou espaço (nove mil metros quadrados, pelos quais Berardo recebe uma compensação!) e retirou à Fundação CCB a sua valência de exposições. Não deveria ser o Berardo a suportar as despesas inerentes ao funcionamento do Museu com a sua colecção?

Para terminar, há aqui uma conta que até me parece ser fácil de fazer:
o Ministério da Cultura através da Direcção Geral das Artes, atribuiu recentemente 2 milhões e 100 mil euros a cerca de 140 projectos artísticos das mais diversas áreas (música, teatro, dança, fotografia, artes plásticas, artes digitais, arquitectura, design, transdisciplinariedade), oriundos de todas as zonas do país; o Museu Berardo tem despesas superiores, ou vá lá, na melhor das hipóteses, equivalentes a este montante. Berardo não é um artista. É um especulador de arte. Ele não produz nada. Faz dinheiro com o trabalho artístico de outros. Ele não ofereceu nada ao estado português, porque um homem de negócios não entra num protocolo destes para perder dinheiro.

Também na área cultural Sócrates está a entregar de bandeja o dinheiro dos contribuintes ao grande capital. Estamos a ser roubados a olhos vistos. E o investimento na Cultura portuguesa não passa, certamente, por sustentar um especulador de arte.

7 comentários:

linhadovouga disse...

É uma máfia. O Sócrates é um mafioso que se associa com o seu bando a mafiosos como o Berardo.

Anónimo disse...

Sem dúvida, sócrates cava mais fundo as assimetrias do país.

Anónimo disse...

Excelente post, muito esclarecedor.

Há muito tempo que eu ando com a pulga atrás da orelha com este negócio feito com o comendador.

Campaniça

Anónimo disse...

Comendador ou Comedor?!... o comendador/comedor é muito culto, anda a fazer concorrência a um cavaco algarvio.

samuel disse...

O CCB, ou mais propriamente, Centro Comercial Berardo, ficará agora completo com mais uma valência qualquer (ainda se fosse de arroz à valenciana...) e um hotel. Confesso que por esta do hotel não estava à espera!

Sal disse...

Amigo Samuel:
li algures que essa história do Hotel já se fala desde que Santana esteve à frente dos destinos da capital...
Que engraçados que eles são...

bjs

OUTONO disse...

Isto....há muito tempo que não é um país...quando muito um pedaço de terra à deriva.

Orgulhosamente sou português...infelizmente vivo em Portugal !