Ex.mo Sr. Mário Bettencourt Resendes
Venho por este meio pedir um esclarecimento em virtude da leitura de uma artigo de opinião de autoria do senhor Alberto Gonçalves, que se intitulava "As goelas que Abril abriu".
Ao abrigo da liberdade de expressão, direito garantido constitucionalmente, pode um cronista ofender um conjunto de pessoas, algumas já falecidas, por não gostar da sua estética? Pode escrever coisas como "a seita sobrevivente" referindo-se a um conjunto de intérpretes que participaram num programa de televisão, mais concretamente num concerto gravado no Coliseu de Lisboa? Pode afirmar que as canções de intervenção têm melodias "indigentes" e que os "poemas" de Gedeão e Saramago são "lixo"? Pode dizer que "o povo mítico" dos "baladeiros" não existia, que será, porventura, o mesmo que dizer que o povo não esteve com os militares que levaram a cabo a revolução do 25 de Abril?
O senhor Alberto Gonçalves é sociólogo. Porém, a leitura que fez da sociedade no contexto da revolução de 74 não está de acordo com a verdade dos factos. Faltar-lhe-á documentação, porque, consultando qualquer História de Portugal poderia compreender como tudo se passou. Sugiro-lhe a "Breve História de portugal", de Oliveira Marques, da Editorial Presença, 1995, todo o capítulo XIV.
Mas não são os conhecimentos históricos do senhor Alberto Gonçalves que estão em causa. A meu ver, trata-se apenas de uma situação em que, tentando escudar-se com o direito à liberdade de opinião, este colaborador do DN resolve fazer uma campanha atentando contra o 25 de Abril, os cantores e poetas de então, alguns ainda vivos (e a realizar concertos na actualidade), e até mesmo contra... a própria liberdade, conquistada à força, mas com a força de todos.
Está, certamente, bastante incomodado, porque, por estes dias, a liberdade conquistada a 25 de Abril tem sido cada vez mais defendida, através das muitas manifestações populares, de vários sectores profissionais, que, aos milhares, vêm dizer que Abril está vivo, e não morto, como o senhor Alberto Gonçalves gostaria (na minha opinião, afinal também tenho direito a ela).
Agradecia um esclarecimento relativamente a este assunto, que me parece da maior importância.
Com os melhores cumprimentos
Carta que enviei por email ao provedor dos leitores do DN, em virtude de um artigo muito rasco que por lá apareceu. Vejam o Cantigueiro, está lá tudo.
12 comentários:
Sal
De vez enquando podemos ver coisas muito bem feitas... este teu post-carta ao provedor é seguramente uma delas.
Parabéns!
Abraço
Subscrevo
Susete Evaristo
Também concordo com a carta, aliás já concordara com a sugestão da justine no blog do Samuel.
Acho óptima a tua carta... mas eu tinha de fazer uma com um grito de alma (um berro de indignação!) sobre aquela "abertura" relativa ao Victor Jara.
Já a publiquei no anónimo.
Abraços
Excelente a tua carta, Sal.
Ontem li apenas o post do Samuel. Não me quis incomodar com a leitura do texto. É gente que usa a liberdade que lhe foi dada para fazer o que esse senhor fez que me causa um asco profundo.
Beijos
Depois do que tu disseste - está tudo dito!!! Obrigada amiga...
Era o mínimo que se podia fazer...mas apetece fazer muito mais!
Há quem ande a gastar alimentos que fazem tanta falta a tanta gente, para defecar tal prosa.
É bastante parecido com os dragões de Komodo que matam devido à imundice (bactérias)que tem na boca.
Eu por meu lado, que até não sou dado ao vernáculo, apetece-me falar mal.
Parabéns pela carta
Sal disse...
Samuel:
Foi escrita "a quente"...
Susete evaristo:
Bem vinda ao Mar sem Sal. Às vezes sem sal, outras vezes com sal a mais...
Sérgio:
Foi, possivelmente, por influência da justine e do seu comentário que acabei por escrever ao provedor. Confesso que há dias em que não suporto nem mais uma mentira. Nem umazinha que seja. Deixei propositadamente de lado o Victor Jara senão "passava-me" e descia ao nível do cronista. E isso eu não quis. Vou ao Anónimo já a seguir.
Maria:
É, realmente, um asco saber que há pessoas assim. Que contraste absoluto com tantas outras que conheço que são tão boas.
Amigona Avó e Neta Princesa:
fiz o que podia. Não é muito. Possivelmente nem me respondem..
Justine:
Ai apetece, apetece...
(Como diz um amigo meu, isto só lá vai à bomba!)
Cicuta:
Seja bem vindo ao Mar sem Sal. tem toda a razão, só não compare os pobres dragões com tamanha besta.
E, já agora, ele não consegue a proeza dos dragões de Komodo, ele não mata ninguém, apenas impesta o ar à sua volta.
Beijinhos a todos, boa semana.
Sal
Saltou-te a tampa, e muito bem, mas ninguém me tira da cabeça que tudo isto se insere, na campanha de intóxicação pré eleitoral, eles estão amedrontados, então começaram mais cedo a destilar o veneno, mas eu insisto na minha :isto é, orquestrado, seja como for, a tua carta faz sentido, eu assino
Manangão
Revoltou-me, entristeceu-me ler a crónica do fascista (DN).
Leio a tua carta e sinto que Abril resistirá, enquanto houver jovens como tu.
Eles podem tentar ofender Abril, ofender Victor Jara, Ary, Gedeão e tantos outros, mas Abril está em boas mãos. Jovens como tu, com uma mão agarram um Cravo e com a outra a Revolução. Abril Vencerá!
Parabéns Sal,
pela lição de Democracia que deste ao Bettencourt.
Continuo a dizer que todos os leitores haviam de fazer boicote ao DN
Um grande bj amiga e camarada,
GR
penso que o melhor é fazer boicote ao diário nazi. Quanto ao provedor não acredito absolutamente nada nele. É a experiência de o ouvir como comentador em tudo o que é sítio. Em meu entender ele seria capaz de dizer o mesmo que o tal "sociólogo", talvez por fax não sei, mas com mais suavidade.
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